quinta-feira, 28 de maio de 2009

Brincar de gente grande.


Foi-se o tempo em que os laços presentes naquele velho instrumento, sempre fixos em nossos pés, amorcetendo a nossa caminhada do dia-a-dia, de todos os lugares, fazia-se notável em nosso cotidiano. Uma breve olhada para cima, quando se voltava do colégio, ou da padaria e lá estava, presos aos fios que dão luz a uma comunidade inteira, os sapatos, tênis, chinelos e o que mais fizer parte do que ditara a moda de sua época. Quase sempre em par, aglomerados, disputando o espaço nos cabos e na ira daqueles que tinham como ocupação manter o funcionamento regular da fiação.

Essa imagem, capturada com perspicácia por Leandro Menezes, estudante de história pela Universidade Federal de Minas Gerais, é cada vez mais rara. Calçados que não são mais descartados tão fácilmente, não ganham mais vôo. Crianças e pre-adolescentes que praticam molecaquem virtual, como os 4channers e afins, conhecem cada vez menos o valor do andar descalço na rua, correr atrás de papagaio, tocar campainha e sair de quebrada, e é claro, amarrar os tênis e brincar de prendê-los nos fios. Coisas como essas, que, ao longo dos anos e da variância de cenários no nosso meio urbano - ou quase sempre urbano - passam despercebidos à nossa atenção, porém, quando defronte a nós, provocam forte nostalgia e irrefutável comparação com os novos tempos e suas peculiaridades.

Locais que insistem a resistir às mudanças do tempo conservam tais imagens, que não devem ser simplesmente esquecidas, deixadas de lado em nossas memórias. Memórias que são resgatadas quando nos reunimos com amigos e recordamos das travessuras de criança. Quão bom não seria se pudéssemos capturar também todo o feeling daqueles tempos... tempo este que nos achamos gente grande, seria interessante brincar como se fazia, quando gente pequena.