quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Se existe.

Considere uma pessoa comum, sem algum desvio de comportamento e crenças relevante. Considere também que esta pessoa é religiosa não fanática e acredita em deus, o Deus dos cristãos. Agora, force-se à abstração até conseguir visualizar e entender tal situação hipotética: em um dado momento da vida de tal pessoa, foi provado com absoluta e irrefutável certeza de que a existência desse Deus não é real em si, em sua verdade universal. O que aconteceria com a crença dessa pessoa? Resistiria? Apagar-se-ia ao longo do tempo? Creio que em tal situação - hipotética, como já dito - não haveria lógica em outro resultado senão o sepulcro desta crença específica. Seria possível isso não acontecer? Se sim, por que ?

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Relato cronológico de cunho autobiográfico.

O dia começara bem. Decidiu não ativar o incômodo alarme do celular, já que isso não fazia outro efeito senão a irritação grátis. Confiou na boa vontade de todos os dias de sua mãe, que amiúde o acordava, e, se não fosse por ela, o simples atraso para os compromisso se tornariam na própria falta deles. Acordou bem disposto, não teve tanta vontade de voltar pra cama e destilar um foda-se ao sol que nascia. Mas era só o primeiro dia. De aula. Fez o seu lanche matinal, já fora de hábito devido às férias, mas, pelo menos o momento da refeição não o incomodava, durante as manhãs. Pelo contrário. Segundo ele, era um dos momentos mais mágicos do dia, pois, em curtíssimo período de tempo, realizava duas das atividades que mais apreciava na vida: dormir e comer. Terminado o processo, escolheu a roupa. Sentiu-se animado para a escolha, por mais trivial que parecessem as próximas horas a seguir. Mas era só o primeiro dia.

Saiu de casa e não teve preguiça de chegar até o ponto de ônibus. Esperou pouco até que chegasse o transporte, que surpresa! Pensou: deve ser coisa do primeiro dia. Sentou-se no lugar mais prático, e chamou seu velho amigo: o aparelinho de tocar música. Nem escolheu bem as faixas, simplesmente deixou rolar. É... era o primeiro dia. Viajou fácil, perdeu-se nos pensamentos, o que era habitual, praticamente uma terapia. Presente dado pelo transporte público. Passou um tempo ou dois, e viu uma garota de cabelo ruivo-falso, bem ao seu gosto, entrar no ônibus. Teve então dois momentos ou três, de sua atenção voltada para ela. Não era feia, e nem bonita, mas pestanejou antes de concluir o fato. Ainda assim teve vontade de ser seu namorado. Por um dia, talvez dois. Ficou contente em não ser percebido por ela, assim poderia percebe-la - limite, imposto pelo acaso, da relação entre eles - sem precisar se esconder. Analisou as irregularidades anatômicas que se faziam notáveis no nariz da menina ruiva. Sentado ali, enquanto ela estava de pé, o nariz não parecia dos mais bonitos. Imaginou ela como sua namorada - por um dia ou dois - e percebeu que, por ser mais alto, a visão de cima seria melhor, e chamaria menos sua atenção. É, ela não era tão bonita, nem tão feia, mas mesmo assim havia simpatizado com ela, por algum motivo. Deve ser coisa do primeiro dia.

Após uma viagem ou outra, a viagem certa, até o seu destino, chegava perto de se concluir. Aquela parte do trajeto sempre o lembrava de pegar o dinheiro, afinal, havia de pagar o preço da dependência do transporte. Ao se levantar pra descer, quase colou seu rosto com o da garota falso ruiva que outrora desejou ser namorado. Mas só por um dia. Ou dois. Ah, se não fosse o transporte público, esse momento nunca teria acontecido! Pouco tempo depois, também em função do transporte público, eles se tocaram. Mais especificamente a mão da garota foi de encontro com seu braço. O claro corpo pequenino e com curvas padrão da garota carregava um frio cadavérico. Definitivamente, não queria mais que ela fosse sua namorada, nem mesmo por dois dias, nem um. A viagem não o cansou. Nem um pouco. Mas isso não quer dizer que era coisa do primeiro dia.

Chegou, bebeu água no bebedouro, nem se importou com a gripe suína. Pouco tempo depois, encontrou pessoas que gostava de encontrar, seja no primeiro dia, ou no último. E foram chegando outras, mais e mais. O que não o impressionou, mas tornou-se digna de menção, foi a cordialidade entre seus amigos de aula, pois classe... enfim, gostou de rever as pessoas, o clima que se fazia ali e essas coisas todas da vida. Soube cedo que não haveria aula, e tinha chegado até ali em vão. Ficou em dúvida se achava bom, ou ruim, mas não se preocupou em chegar a uma conclusão. Prolongou sua estadia na cantina, num papo bacana entre seus bons companheiros, até que foi resolver problemas burocráticos com a universidade, com uma sagacidade incomum. Coisa do primeiro dia. Desanimou-se no primeiro obstáculo: a fila que deveria enfrentar até conseguir entrar em contato com o colegiado de seu curso. Após enfrentar toda a fila, descobriu que não era ali que o seu problema deveria ser tratado. Não se importou muito, esse tipo de coisa tinha se tornado comum. Finalmente foi resolver suas pendências no lugar certo, com as companhias certas, e enfim conseguiu o que precisava, e então foi embora.

Ao chegar em casa, repetiu o script de todos os dias: almoço + programa de esporte. A universidade pública havia lhe dado a tarde inteira de presente, e então deu-se ao luxo de tirar uma sonequinha. Novamente, em curtíssimo período de tempo, estava a realizar as duas prazerosas atividades de sua vida, as quais exercia com maestria: comer e durmir. Viva a universidade pública! Será que era coisa do primeiro dia? De fato dormiu, mas logo foi acordado pelo grito do celular. Não era o alarme, era o Lobo. Falou alguma coisa sem nexo mas por fim soube que teria visita mais tarde. Gostou da notícia e voltou a dormir. Pouco tempo depois foi novamente acordado, mas não pelo Lobo. Dessa vez foi pelo Arthur, seu irmãozinho caçula. Apenas 2 anos. Gostou bastante da visita, e ateve-se a ele durante bom tempo, que passou rápido. Era a suprema juventude contrastada à sua síndrome da terceira idade. Desfeita a primeira visita, foi fazer caminhada. Coisa de segundo dia, pois, devido alguns problemas físicos, havia dois meses que não praticava sua corrida habitual e voltara a cumpri-la no dia anterior. Enquanto corria, lembrou-se dos fatos do dia que caminhava para o desfecho, e percebeu que foi um dia ligeiramente incomum. Coisa do primeiro dia ?

Depois do banho tomado, cabelo lavado e barriga cheia, ligou o computador. Coisa, definitivamente, de todos os dias. Pensou: dotinha ? Não teve muito ânimo e por fim decidiu escrever em seu blog. Gastou uns 30, 40 minutos, talvez, até chegar nessa frase, e pensou: Será que isso é coisa do primeiro dia? E sem titubear definiu que sim, era coisa de primeiro dia. Quão chato seria fazer esse tipo de relato, todos os dias, ou todas as semanas! Olhou para o relógio e percebeu que estava quase na hora do seu bom amigo Lobo chegar. Precisava ser gentil, fazer sala e encher a barriga do seu amigo, então concluiu que essa linha é a conclusão de seu relato.